As relações de gênero são uma pauta recorrente neste pleito eleitoral. Para além da discussão de mulheres/feminismos, este é um dos eixos centrais da nossa experiência social contemporânea
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Michele Bolsonaro no encontro em Fortaleza/Ce - Foto: Débora Castro |
Por Débora Castro, pesquisadora e doutoranda em Socilogia/UECE.
Em encontro realizado no dia 14, mulheres cearenses foram convidadas por lideranças religiosas e políticas a se encontrarem com a primeira-dama, Michele Bolsonaro.
Como Aias pós-modernas, elas cuidaram do cenário e música para demonstrar que mulheres tem o dever de proteger o homem infantil que não possui limites.
A comitiva que acompanhava Michele, sem exceção, mulheres do primeiro e do segundo escalão do governo, minimizou falas e atitudes de Bolsonaro, pelo espírito “brincalhão” do presidente e uma certa infantilização comportamental, tal qual a pureza das crianças que não percebem a malícia de seus interlocutores, algozes prontos para aproveitar um deslize e compartilhá-lo na mídia malvada.
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Michele citou várias vezes que teve que “educar” o presidente e ensinar bons modos. A ex- ministra Damares lembrou que ele pediu desculpas pelos impropérios. Quase no mesmo horário, naquele mesmo dia, Bolsonaro disse ter “pintado um clima” com meninas de 14/15 anos.
Contudo, ali, as mulheres foram convocadas a esquecer as falas misóginas e converter votos, não lerem jornais e irem às ruas falar com “as pessoas mais humildes” que são facilmente corrompidas pelo discurso do “Partido das Trevas”.
A função delas é servir a um bem maior: impedir a ameaça comunista.
Diante das distorções dos fatos, é importante lembrar que a ruptura estrutural necessária para uma mudança econômica e social dessa natureza é inviável. Mas isso não importa.
As Aias pós-modernas, de classe média alta, norteiam sua atuação com base em uma construção narrativa surrealista, pautada por uma lógica própria, seletiva e maniqueísta.
O bolsonarismo, de fato, é mais que uma “onda”. É um movimento político que também desencadeou uma série de apoios femininos com peculiaridades que não passam por projetos nacionais de desenvolvimento.
Tais elementos precisam ser analisados com cuidado uma vez que o número de mulheres eleitoras já supera o número de homens.
Esta reunião serviu para realizar essa aproximação, mesmo que na prática tenha sido distanciada da realidade da maior parte das mulheres nordestinas, pelas pautas abordadas (distorcidas), seja pela absolvição completa das questionáveis decisões do presidente.
Mas isso não importa, para as Aias pós-modernas, religiosas e autointituladas conservadoras, o mal tem nome e o sobrenome é comunismo.
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