A fumaça que resiste em pleno século XXI enquanto a modernidade avança e se integra ao dia a dia da cidade
Essa é uma realidade persistente e, por vezes, esquecida, que molda a vida de milhares de famílias na zona rural de Russas, no Vale do Jaguaribe, no Ceará.
O uso massivo do fogão a lenha, longe das conveniências do gás encanado ou botijões acessíveis, a maioria dos lares rurais da região ainda depende dessa prática ancestral para o preparo de suas refeições, um hábito que reflete desafios econômicos, culturais e de infraestrutura.
A permanência do fogão a lenha não é meramente uma questão de apego à tradição, mas sim uma resposta direta a uma série de fatores socioeconômicos.
Para muitas famílias, a lenha representa a opção mais viável e econômica para cozinhar.
O cenário em Russas reflete uma realidade comum a muitas outras regiões rurais do Brasil, onde a modernização ainda não alcançou todos os lares.
O custo do gás de cozinha, que tem sofrido aumentos constantes, torna-se um fardo pesado no orçamento de quem vive com rendas limitadas, muitas vezes provenientes da agricultura de subsistência ou de programas sociais como o Bolsa Família.
A coleta de lenha, embora trabalhosa e com impactos ambientais, é vista como uma alternativa gratuita e disponível no entorno das propriedades.
Além do aspecto financeiro, a infraestrutura precária em algumas áreas rurais contribui para a manutenção dessa prática.
A dificuldade de acesso a pontos de venda de gás e o preço do botijão são barreiras significativas que impedem a transição para métodos mais modernos e, teoricamente, mais saudáveis.
O uso contínuo do fogão a lenha, embora culturalmente arraigado, não está isento de consequências.
A inalação da fumaça, rica em partículas finas e gases tóxicos, é uma preocupação séria para a saúde das famílias, especialmente para mulheres e crianças, que passam mais tempo em casa.
Doenças respiratórias como bronquite, asma e pneumonia são mais prevalentes nessas comunidades rurais.
Apesar dos desafios, há um crescente reconhecimento da necessidade de buscar alternativas e soluções para essa realidade.
Iniciativas governamentais têm explorado a distribuição ou a promoção de programas de acesso facilitado ao gás de cozinha.
No entanto, a implementação dessas soluções em larga escala esbarra em questões logísticas e financeiras.
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